A nova presidente da Comissão de Anistia, Ana Maria Lima de Oliveira, procurou na última quinta-feira (6) o Ministério da Saúde para tentar viabilizar o atendimento de saúde mental para perseguidos políticos e seus familiares, uma das prioridades de sua gestão à frente do colegiado.
“As perseguições são transgeracionais, ultrapassam a pessoa do perseguido. Elas violaram as famílias, as companheiras e os companheiros, os filhos que tiveram que nascer no exílio, os que foram presos com seus pais e tantos outros que foram privados da família por conta da perseguição política”, diz.
“Nós temos um filho de perseguido que a mãe foi presa quando ele tinha 4 anos. Ele só conseguiu falar sobre todo esse processo que viveu agora, por causa do filme ‘Ainda Estou Aqui'”.
Ana Maria afirma que a demanda por esse tipo de atendimento é muito alta, principalmente nas grandes cidades, onde o acesso é mais fácil. “O SUS [Sistema Único de Saúde] já oferece tratamento psicológico, especialmente depois da pandemia, mas para perseguidos não tínhamos essa linha”, diz.
Segundo a presidente da comissão, a diretora Sonia Barros, do departamento de Saúde Mental do ministério, ficou sensibilizada e disse que pensaria em uma forma de treinar as equipes que estão nos postos de saúde para lidar com os perseguidos e seus familiares.
“O que eu quero é uma política de Estado. Eu não quero uma política de governo, porque entra governo, sai o governo, acaba a política. É o risco”, afirma Ana Maria.
A procuradora federal aposentada também tenta, com ajuda do Ministério da Educação, explorar nos currículos escolares a história das ditaduras, dentro do conceito de “educação para a não-repetição”.
“Quem se formou a partir de 1964 não conhece a história do Brasil. Então é preciso formar os professores para que eles formem estudantes. Porque entre os jovens é onde mais se localizam os que apoiam a extrema-direita”, diz.
“Nós temos que ter memória, nós temos que ter verdade, nós temos que ter justiça. É impossível que aqueles que violaram continuem sendo condecorados, recebendo suas promoções, enquanto aqueles que foram perseguidos continuam sofrendo.”
Ana Maria afirma estar buscando parlamentares para tirar essas políticas do papel e também para viabilizar as caravanas de anistia, nas quais a comissão vai a estados onde houve violações aos direitos humanos.
“Por exemplo, nós vamos a São Paulo. Lá nós temos muitas pessoas que foram perseguidas. Então se for sindicalista, nós vamos lá para o sindicato, para a universidade”, detalha a presidente da comissão.
Ela afirma ainda que as reparações coletivas a grupos perseguidos, que são meramente simbólicas, vão continuar em sua gestão. “Agora é que elas vêm com todo o gás, né? Porque os grupos começam a se organizar para propor seus processos”, afirma.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.