Na quarta-feira (12), Lula anunciou uma iniciativa para expandir o crédito dos trabalhadores e explicou: “Não há nada mais milagroso para uma economia do que o dinheiro circular na mão de todos. Quando o dinheiro se concentra na mão de poucos, a gente sabe o resultado da história do Brasil, de muitos países e da humanidade”.
Faltou-lhe a sorte. No mesmo dia, o IBGE informou que a inflação acumulada nos últimos 12 meses estava em 5,06%, superando o teto da meta do Banco Central de 4,5%. Mais dinheiro na mão de todos faz milagres. Contudo, se o dinheiro vale menos, o milagreiro se torna charlatão.
Desde que a carestia foi associada à erosão da confiança no governo, os companheiros correm atrás de más notícias pontuais. Ora é o ovo, ora o café. Para o que seriam problemas pontuais, respondem com soluções políticas pontuais. Itaipu socorre as tarifas de energia, ou retira-se o imposto de importação para aliviar o preço do ovo.
No final do século passado, o dragão da carestia assombrou quatro presidentes: Ernesto Geisel, João Figueiredo, José Sarney e Fernando Collor. Todos tentaram conter a inflação valendo-se de medidas econômicas empacotadas em iniciativas políticas. Todos fracassaram, até que no governo de Itamar Franco, com Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, veio o Plano Real e foi restabelecido o valor da moeda.
Saído da cabeça de um grupo de economistas, o Plano Real era engenhoso, mas só deu certo porque, finalmente, Itamar Franco e, sobretudo, Fernando Henrique Cardoso, subordinaram as ações pontuais ao objetivo central da recuperação do valor da moeda. Se isso tivesse sido feito nos governos anteriores, o Brasil não teria chegado a uma inflação de 1.621% em 1990. Naquele tempo, o instituto da correção monetária mascarava a carestia. Hoje, a inflação entra direto no orçamento das famílias.
Apesar disso, Lula acredita em bodes expiatórios. Até o ano passado, ele se chamava Roberto Campos Neto. Como ele deixou o Banco Central, teria deixado uma “arapuca”. Já já, o bode da vez serão as tarifas de Donald Trump. Aos bodes, contrapõe-se o milagreiro. Ele aciona o companheiro de Itaipu e baixa a tarifa de energia naquele mês.
Lula 3.0 está diante de um surto inflacionário incipiente, porém cruel, e acredita nas virtudes de uma retórica que, há 50 anos, levou-o de um torno mecânico ao Palácio do Planalto. No governo, ele não percebeu que a situação se inverteu. Ele agora está na cadeira dos presidentes que acreditavam em medidas pontuais e em pacotes que misturavam objetivos políticos com medidas econômicas.
Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco perceberam a sutileza do problema. A carestia/inflação era o principal problema da política brasileira e deveria ser enfrentada com iniciativas globais na economia.
Lula e Luís 15
Com sua piada sobre os atributos de Gleisi Hoffmann, Lula aproxima-se perigosamente do diagnóstico do historiador francês Claude Manceron a respeito de Luís 15, rei da França de 1715 a 1774.
Ao fim do seu reinado, aos 64 anos, ele estava fora de moda.
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