O presidente Lula (PT) inaugurou nesta quarta-feira (19) uma barragem em uma cerimônia que teve a oração do Pai-Nosso, críticas ao antecessor Jair Bolsonaro (PL) e disputa pela paternidade da obra, que faz parte do projeto de transposição do rio São Francisco.
Com um investimento de R$ 765 milhões, a barragem faz parte do Complexo Oiticica, obra hídrica que vai beneficiar o sertão do Seridó com o represamento das águas do rio Piranhas. A obra foi iniciada em 2013, ainda na gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), e durou 12 anos.
“A seca é um fenômeno da natureza. Ela é uma coisa feita por Deus. Acontece que a gente vê pessoas morrerem por conta da seca, ou animais morrerem por conta da seca, já não é mais por conta de Deus, mas de irresponsabilidade das pessoas que governaram esse país durante tantos anos”, disse Lula na solenidade na cidade de Jucurutu (245 km de Natal).
Na sequência, ele direcionou as críticas a Bolsonaro, disse que o seu antecessor “só sabia mentir na televisão, destilar ódio e contar mentiras” e afirmou que o país estava acéfalo.
Também questionou a religiosidade do adversário: “Quando a gente é religioso de verdade, a gente não usa o nome de Deus em vão”.
Ao se referir à barragem, Lula afirmou que não havia dotação para a obra no orçamento de 2023, aprovado ainda na gestão Bolsonaro, e agradeceu aos deputados e senadores que direcionaram recursos de emendas parlamentares para o projeto.
“Eu sou agradecido porque, enquanto um presidente irresponsável só tinha colocado R$ 87 milhões, os deputados e senadores colocaram R$ 203 milhões para fazer essa obra”, disse.
A obra de construção da barragem de Oiticica foi iniciada em 2013, ainda no governo Dima, atravessou as gestões de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) e foi concluída no governo Lula.
A paternidade da obra é disputada por aliados de Lula e de Bolsonaro, que visitou a obra em fevereiro de 2022 e atacou os seus antecessores. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que 69% da obra foram realizados no governo Dilma e os 9% finais no governo Lula.
A inauguração da obra foi cercada de simbolismos, a começar pela escolha da data. Em 19 de março se celebra o dia de São José, santo que em regiões do semiárido nordestino é visto como um intercessor divino para pedir chuvas e proteção para as colheitas.
No final da cerimônia, Lula passou o microfone ao arcebispo emérito de Natal, dom Jaime Vieira Rocha, que falou das lutas da igreja pelo acesso à água no Nordeste e puxou uma oração do Pai-Nosso.
A visita de Lula ao Rio Grande do Norte acontece em um momento em que o presidente vive uma crise de popularidade, com uma queda brusca em sua avaliação positiva entre os eleitores do Nordeste. O cenário acendeu o alerta de aliados e impulsionou cobranças por mudanças de rota no governo.
Dados da pesquisa Datafolha divulgada em 14 de fevereiro apontam que a aprovação do presidente desabou nos últimos dois meses, chegando ao menor patamar em seus três mandatos.
No Nordeste, principal reduto eleitoral do presidente, a avaliação ótima e boa de Lula caiu de 49% para 33%, maior queda regional. A região concentra um em cada quatro eleitores brasileiros e foi determinante para a vitória do petista em 2022.
A inauguração teve clima festivo e Lula foi recebido com aplausos de apoiadores. Mas também houve protestos: servidores das universidades federais do Rio Grande do Norte ergueram cartazes e faixas cobrando reajuste salarial, que não foi concedido em virtude da Lei Orçamentária Anual estar parada no Congresso Nacional.
Em 2024, a categoria dos técnicos administrativos realizou uma greve nas universidades que durou mais de 100 dias. A principal demanda dos servidores é um reajuste salarial de 9% que deveria ter sido aplicado em janeiro deste ano.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), também foi alvo de protestos de professoras da rede estadual, que estão em greve desde 26 de fevereiro.