Presidente estadual do partido Novo em São Paulo a partir deste mês, o cientista político Christian Lohbauer, 58, afirma que a legenda vive um renascimento pós João Amoêdo, torce por uma chapa Tarcísio-Zema para 2026, defende Jair Bolsonaro (PL) e lança o ex-ministro e deputado Ricardo Salles (Novo) para o governo paulista —ou para o Senado.
“O grande erro do partido foi ter encampado o impeachment do Bolsonaro. É quase inexplicável assumir uma pauta dessa, quando a gente trabalhou tantos anos para combater o PT. Estamos mais maduros, conscientes de que esse erro nos custou cinco, seis, sete anos de crescimento”, diz à Folha.
“O Novo tem essa dificuldade de posicionamento por causa do nosso passado recente. As pessoas perguntam do Amoêdo porque ele votou no Lula e tal. A mensagem mais importante é que estamos na direita”, completa.
Lohbauer foi candidato a vice-presidente na chapa de Amoêdo em 2018 e, por isso mesmo, faz questão de enfatizar a espécie de refundação do Novo. “Estamos voltando a ser o que éramos.” Ele chegou a deixar a legenda, mas voltou em 2022, quando foi Amôedo quem saiu de vez.
Segundo o dirigente, o partido celebraria, em 2020, 50 mil filiados pagantes, número que caiu para 13 mil no ano seguinte. Em 2022, o Novo elegeu apenas 3 deputados federais ante 8 em 2018.
A respeito da denúncia contra Bolsonaro sob acusação de liderar uma trama golpista, Lohbauer afirma que não houve tentativa de golpe e prega a anistia para os presos do 8 de janeiro. Ele afirma, porém, que o ex-presidente deve ser condenado, “ao que tudo indica”.
“Esse julgamento é totalmente político, não é técnico nem jurídico. Independentemente de as pessoas gostarem ou não do Bolsonaro, é um perigo para o Brasil. Se fizerem esse julgamento, como parece que vão fazer, politicamente contra o ex-presidente, podem fazer com qualquer um.”
A missão de Lohbauer é preparar o partido para o pleito de 2026 e, com o Novo posicionado na direita, tudo depende daqueles que mobilizam esse campo: Bolsonaro, que estaria fora da urna, e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem até março do ano que vem para tomar uma decisão.
Para o dirigente, há duas certezas. Primeiro, entre Lula e Bolsonaro, a escolha é pelo ex-presidente. Segundo, se Tarcísio concorrer ao Planalto abençoado por Bolsonaro, o partido Novo irá apoiá-lo. “Seria um cenário que me parece mais provável e talvez mais consistente. Bolsonaro colocar a mulher dele ou o filho é muito frágil.”
Por enquanto, o partido investe em Romeu Zema (Novo), e Lohbauer não descarta que o governador de Minas Gerais possa concorrer até ao Senado para a ajudar a legenda.
“Contratamos pesquisa para entender quanto o Zema pode ocupar um espaço de presidenciável. É difícil, porque o partido não tem a dimensão dos outros, mas Zema é um nome que está mesa ou como cabeça de chapa, ou como vice ou como uma pessoa que vai construir a aliança da vitória.”
Sobre uma chapa Tarcísio-Zema, ele brinca em referência à República Velha: “seria uma coisa que todo mundo deseja, uma espécie de café com leite pós-moderno”.
Lohbauer afirma ainda que o campo entre Lula e Bolsonaro pode se fragmentar e que o Novo não estaria numa construção de centro que envolvesse o PSDB, por exemplo. Além disso, vê no PSD o fiel da balança, que pode abandonar Lula e determinar se Tarcísio vai concorrer ao Planalto.
Tarcísio certamente seria reeleito na opinião de Lohbauer, mas se optar por deixar um vácuo na sucessão do Palácio dos Bandeirantes, “Salles vai imediatamente ser lançado a governador”. Para o cientista político, o deputado bolsonarista que deixou o PL após enfrentar Valdemar Costa Neto tem boas chances de se eleger tanto ao governo quanto ao Senado, já que a direita carece de nomes —menciona apenas Eduardo Bolsonaro (PL) e Guilherme Derrite (PP).
Em 2026, Lohbauer diz que o Novo quer “ocupar o espaço eleitoral que está aberto”, atraindo bolsonaristas e não bolsonaristas de direita e que “estão órfãos” porque os demais partidos, como PL, União Brasil, PSD, “você não sabe muito bem o que são”.
“Muita gente está procurando uma coisa liberal, conservadora, consistente, que tenha um pouco de leveza em comparação aos partidos gigantes, pesados, fisiológicos. O momento é favorável”, completa.
Lohbauer define a decisão de aceitar coligações e de usar o fundo eleitoral como “práticas mais realistas” que “parecem quase óbvias para o Novo continuar existindo”.
“A polarização é que atrapalhou a nossa existência. A gente era um caminho de alternativa permanente dos contribuintes, das classes médias, dos trabalhadores que pagam imposto e não recebem em benefícios sociais aquilo que contribuem”, resume.